O Jesus Histórico: Controvérsias, Críticas e Respostas Conservadoras


 

Resumo

 

A discussão sobre o Jesus Histórico emergiu com intensidade na teologia crítica dos séculos XVIII e XIX, especialmente no contexto do Iluminismo e do racionalismo. Este artigo busca analisar as origens da controvérsia sobre o Jesus Histórico, apresentar os principais argumentos contrários à sua veracidade histórica e, em seguida, demonstrar como a teologia sistemática reformada, especialmente de cunho conservador, responde a essas objeções, reafirmando a existência histórica de Jesus e sua centralidade na fé cristã. A abordagem aqui apresentada procura unir fidelidade bíblica, rigor histórico e compromisso confessional.


Palavras-chave: Jesus Histórico, Teologia Reformada, Crítica Bíblica, Conservadorismo Teológico, Ressurreição, Evangelhos, História de Jesus.

1.    Introdução

 

O conceito de "Jesus Histórico" refere-se ao esforço acadêmico de reconstruir a vida de Jesus de Nazaré com base em critérios históricos e críticos, muitas vezes apartados da fé cristã tradicional. Essa busca surgiu, em grande parte, como reação à leitura teológica dogmática dos Evangelhos, sendo marcada por diversas fases e escolas de pensamento. Por outro lado, a teologia reformada conserva o compromisso com a historicidade dos relatos bíblicos e com a confessionalidade cristológica das Escrituras.

2.  A origem da controvérsia

 

A controvérsia sobre o Jesus Histórico teve seu início mais notável com os trabalhos de pensadores racionalistas, como Hermann Reimarus (1694–1768), que questionou os milagres e a ressurreição de Jesus. David Strauss (1808–1874), em sua obra A Vida de Jesus (1835), aplicou a crítica histórica aos Evangelhos e tratou os relatos sobrenaturais como mitos. Posteriormente, Rudolf Bultmann (1884–1976) defendeu a "desmitologização" do Novo Testamento, sustentando que não é possível saber muito sobre o Jesus da história, mas apenas sobre o "Cristo da fé".

Albert Schweitzer, em A Busca do Jesus Histórico (1906), afirmou que muitos estudiosos projetavam seus próprios ideais em Jesus, criando versões artificialmente modernas d'Ele. A "terceira busca" pelo Jesus Histórico, a partir dos anos 1980, visou resgatar um Jesus mais próximo da realidade judaica do primeiro século, mas ainda assim, muitos estudiosos continuam negando a confiabilidade plena dos relatos evangélicos.

 

3. Argumentos contrários à historicidade de Jesus

Os críticos do Jesus Histórico geralmente apresentam os seguintes argumentos:

·       Ausência de registros extrabíblicos confiáveis: Alegam que os relatos sobre Jesus fora do Novo Testamento são escassos e tardios.

·       Caráter teológico dos Evangelhos: Dizem que os Evangelhos são escritos com fins doutrinários, não históricos.

·       Incompatibilidades narrativas: Destacam supostas contradições entre os relatos dos Evangelhos.

·       Incredulidade quanto aos milagres: Por um viés naturalista, negam a possibilidade dos milagres e da ressurreição.

Respostas da teologia reformada conservadora

 

Teólogos reformados conservadores têm respondido vigorosamente a essas objeções com base na integridade das Escrituras e na confiabilidade histórica dos documentos do Novo Testamento.

4.1 Confiabilidade dos Evangelhos

 

Autores como F. F. Bruce (The New Testament Documents: Are They Reliable?, 1943) e Craig Blomberg (The Historical Reliability of the Gospels, 1987) demonstram que os Evangelhos foram escritos dentro de uma geração dos eventos descritos, com base em testemunhos oculares e preservados em comunidades que valorizavam profundamente a tradição oral confiável.

4.2 Testemunhos extrabíblicos

 

Historiadores como Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas, 18.3.3) e Tácito (Anais, 15.44) mencionam Jesus e os cristãos em contextos que confirmam aspectos fundamentais da narrativa cristã primitiva, como a crucificação sob Pôncio Pilatos.

4.3 A impossibilidade do mito

 

C. S. Lewis e John Warwick Montgomery argumentam que os Evangelhos não têm o estilo literário de mitos ou fábulas, mas de testemunhos históricos. A propagação da fé cristã baseada na ressurreição, desde Jerusalém, entre testemunhas vivas, também aponta para a realidade dos fatos.

4.4 A unidade entre o Jesus Histórico e o Cristo da fé

 

A teologia sistemática reformada sustenta que não há cisão entre o Jesus da história e o Cristo da fé. Como afirmou Herman Bavinck, "a fé cristã repousa sobre fatos históricos que não podem ser separados da revelação divina" (Dogmática Reformada, vol. 3). Jesus é tanto figura histórica como Senhor ressurreto, conforme revelado na Escritura.

5. Conclusão

 

A teologia reformada, ancorada na Sola Scriptura e na centralidade de Cristo, reconhece plenamente a realidade do Jesus Histórico, sem separar esse da confissão de fé. As críticas modernas falham em aplicar critérios justos e equilibrados aos textos bíblicos, frequentemente operando sob pressupostos naturalistas e céticos. Ao contrário, a fé cristã histórica afirma: o Verbo se fez carne em tempo e espaço, e a história é palco da revelação redentora de Deus.

Referências

 

- BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- BLANKENSHIP, Matthew.
The Reliability of the New Testament. Grand Rapids: Zondervan, 2012.
- BLOMBERG, Craig. The Historical Reliability of the Gospels. Downers Grove: IVP Academic, 1987.    
- BRUCE, F. F. The New Testament Documents: Are They Reliable?
Grand Rapids: Eerdmans, 1943.      
- JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas. Livro 18.      
- SCHWEITZER, Albert.
The Quest of the Historical Jesus
. 1906.       
- STRAUSS, David Friedrich. A Vida de Jesus. 1835.
- TÁCITO. Anais, XV.44.

Filipi dos Reis

Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e atua como advogado desde 2017. Com sólida formação jurídica, Filipi também se dedica aos estudos teológicos, sendo pós-graduando em Teologia Reformada e em Apocalipse e Escatologia pelo Instituto Reformado de São Paulo. Sua trajetória é marcada pela integração entre fé e vocação, com especial interesse na escatologia à luz das Escrituras e da tradição reformada.

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