Resumo:
Este artigo tem como objetivo demonstrar, com base nas Escrituras e em
autores cristãos históricos, que a Grande Comissão não é uma ordem exclusiva
aos apóstolos ou líderes eclesiásticos, mas um mandamento dirigido a todos os
crentes. A missão evangelizadora da Igreja é uma responsabilidade universal dos
redimidos, sendo expressão natural da fé genuína e do discipulado autêntico.
Palavras-chave: Grande Comissão; Evangelização; Discipulado; Igreja;
Missão.
1. Introdução
O texto de Mateus 28.18-20, conhecido como a Grande Comissão, é um dos
pilares da missão cristã no mundo. A ordem de Cristo ressurreto — “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações” — levanta uma importante
questão: esse mandamento foi dado somente aos apóstolos ou estende-se a todos
os crentes ao longo da história da Igreja? O presente artigo defende que a
Grande Comissão é uma ordem permanente, válida para todos os cristãos,
independentemente de sua função eclesiástica.
2. O Fundamento da Missão: Autoridade e Presença de Cristo
No versículo 18, Jesus declara: “Toda a autoridade me foi dada no céu e
na terra.” Esta afirmação é o fundamento da ordem que segue. O envio da Igreja
está baseado na autoridade universal de Cristo, o Rei exaltado. A missão da
Igreja não surge de uma iniciativa humana, mas de um decreto soberano do Senhor
ressuscitado.
João Calvino observa que a ordem de ensinar “todas as nações” e a promessa da
presença de Cristo até o fim dos tempos evidenciam o caráter permanente da
missão da Igreja (CALVINO, 2006, p. 333).
3. A Responsabilidade Universal dos Crentes
A fé cristã, por sua natureza, é comunicativa. A experiência da salvação
em Cristo desperta no crente o desejo de testemunhar. A ordem de evangelizar,
portanto, não é apenas uma tarefa para ministros ordenados, mas um dever
espiritual de todos os que pertencem ao corpo de Cristo.
Charles Hodge sustenta que “a obrigação de estender o conhecimento do Evangelho
repousa não apenas sobre os ministros, mas sobre toda a Igreja” (HODGE, 1871,
p. 798). B. B. Warfield também argumenta que a fé genuína é, por essência,
missionária: “A verdadeira fé em Cristo não pode ser egoísta. Ela exige ser
comunicada” (WARFIELD, 1911, p. 3). John Murray reforça que a união com Cristo
envolve participação ativa em Sua obra (MURRAY, 1955, p. 116).
4. A Igreja como Agente Vivo da Missão
A missão da Igreja é continuidade da missão de Cristo. Assim como o
Filho foi enviado pelo Pai, Ele agora envia seus discípulos ao mundo (Jo
20.21). A Igreja não é uma instituição voltada para si mesma, mas um corpo
enviado, uma comunidade vocacionada a tornar Cristo conhecido entre todas as
nações.
Herman Bavinck escreve que “a Igreja é, por sua própria natureza, missionária”
(BAVINCK, 2004, p. 412). Martyn Lloyd-Jones afirma que “não existe verdadeira
espiritualidade sem zelo missionário” (LLOYD-JONES, 1984, p. 93).
5. Considerações Finais
A Grande Comissão é uma ordem clara, direta e permanente. Cristo enviou
a Igreja para fazer discípulos em todas as nações, batizando-os e ensinando-os
a guardar tudo o que Ele ordenou. Essa missão não se restringe a um grupo
seleto, mas envolve todos os que foram redimidos por Seu sangue.
Cada crente, com os dons e recursos que possui, é chamado a participar da obra
missionária — seja indo, contribuindo, orando ou testemunhando no contexto onde
vive. A Igreja só será plenamente obediente quando cada um dos seus membros
abraçar com alegria e responsabilidade o chamado de Cristo à missão.
Referências:
BAVINCK, Herman. Reformed
Dogmatics: Holy Spirit, Church, and New Creation. Grand Rapids:
Baker Academic, 2004.
CALVINO, João. Comentário ao Evangelho de Mateus. São Paulo:
Parakletos, 2006.
HODGE, Charles. Systematic
Theology.
Grand Rapids: Eerdmans, 1871.
LLOYD-JONES, D. Martyn. Evangelization
and the Sovereignty of God. Edinburgh: Banner of Truth, 1984.
MURRAY, John. Redemption
Accomplished and Applied. Grand Rapids: Eerdmans, 1955.
WARFIELD, B. B. The Power of God
Unto Salvation. Philadelphia: Presbyterian Board of Publication, 1911.